Capítulo 3

Luan narrando

Subi pro meu quarto com Otávio assim que meus pais avisaram que iam dormir. Meu filho ficou ao meu lado na cama, brincando com seus legos.
- Filho! Bora tomar um banho? - falei lhe enchendo de cócegas.
- Papai. Quero chocolate!
- Vamos lá buscar então! -
Descemos pra cozinha pegando uma barra que tinha na geladeira e voltamos pro quarto. Otávio se sentou no tapete, e começou a comer aquilo com gosto. Via sua caretas e ria sozinho. Tavinho era minha razão de viver, um pedaço de mim. Apesar de tudo era a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Enquanto o observava, lembrei do momento em que descobri que tinha um filho no mundo.

Flashback on

- Luan! Tem como atender a campainha pra mim filho? Acho que a Rafa chegou! - minha mãe disse e assenti, levantando pra abrir a porta. Minha esposa havia ido ao mercado junto com Bruna e estava pra chegar. Abri a porta e me deparei com uma mulher. Franzi as sobrancelhas. Eu já tinha a visto antes.

- Quem é você?

- Sou Milena Luan. Menina que você saiu, e transou a 2 anos, e que tá aqui, com teu filho. - falou puxando um menininho pro seu lado.

- Você tá maluca mulher? Como entrou aqui? - gritei e minha mãe apareceu.

- O que tá acontecendo aqui?

- Vai la falar oi pra vovó filho.

- Vovó? - minha mãe olhou assustada pros pequenos olhos castanhos claros que fitavam ela.

- Eu não tenho filho nenhum, essa mulher ta louca mãe, não acredita nela.

- Pelo amor de Deus, Luan Rafael! Esse menino é a sua cara..

- Mãe... -sussurrei.

- Tudo bem. Eu imaginava mesmo que você não ia acreditar, marquei o exame de DNA. Nesse local, amanhã, ás 08:30. - falou me entregando um papelzinho. - Uma louca aparecer na porta da sua casa depois de tanto custo por você ser o ''Luan Santana''. Não é nenhum louco que ia acreditar tão fácil.. Tchau! - ela pegou o menino no colo e saiu dali sem deixar com que eu a respondesse
Fechei a porta e respirei fundo. Não! Isso não pode estar acontecendo...

- Mãe, eu não sei. Se isso for verdade, deixa sermão, surra, pra amanhã tá bom? E não fala pra Rafaela. - falei ao ver que ela olhava pra mim apavorada
- Qual é o seu problema? Eu não te criei pra ser assim! Você traiu a Rafaela, Luan! Sua esposa, sua melhor amiga. Que mata e morre por você. Eu considero ela como minha filha não como minha nora. Eu não acredito nisso.
- Mãe, não conta.. - falei desesperado.
- Não vou contar! Pois quem vai contar é você. E não me dirija a palavra hoje, Luan Rafael. Você é um homem, se vire com as consequências e com a vida que você pode estar prestes a levar. 

Minha mãe saiu da sala e eu subi pro meu quarto, me sentei na cama apoiando minha cabeça sobre minhas mãos. Nervoso. Eu tremia. Que merda eu havia feito, eu não queria um filho, não agora.. Eu queria muito que Milena estivesse mentindo. Que aquilo fosse uma pura enganação. Mas eu havia sim saído com ela, e não foi uma vez só. Além do menino ser a minha cara. Rafaela não podia descobrir, mas ia. Eu não queria magoa-lá. eu gostava tanto dela. Mas não da mesma intensidade em que ela gostava de mim. E sempre foi assim. Na verdade acho que nascemos apenas para ser bons amigos.
(...)

Fazia uma semana que havia feito o exame de DNA, e hoje o resultado iria sair. Passei a semana toda na minha, sem falar com ninguém, fazendo minha esposa que me acompanhou nos shows, e toda a equipe me questionar sobre meu silêncio. Levantei bem cedo, e saí de casa antes de Rafa acordar. Dirigi o mais rápido possível até o laboratório, e logo estava na recepção, onde encontrei Milena com Otávio no colo. 

- Pode pegar o resultado! O Breno precisa beber água. - Disse saindo dali e caminhando até o bebedouro, que era próximo. Ela estava assustada. Diria que tensa. Apenas assenti com a cabeça.

A recepcionista me deu o exame, e depois de suspirar, o abri o mais rápido que pude. Vendo então, que eu era pai de Otávio, como imaginava. Eu não sabia explicar o sentimento que sentia, era uma mistura de felicidade, tristeza, angustia, ansiedade, medo. Fui até aonde Milena estava, minhas pernas bambearam e um arrepio tomou conta do meu corpo, assim que vi Otávio sentado no chão, encostado no bebedouro, chorando de soluçar.

- O que foi? - me agachei ficando em sua altura.

- Mama foi embora! E disse que não volta. - ele soluçava.
- Filha da puta! - murmurei socando o bebedouro a minha frente. Otávio só chorou mais.
- Calma, vem aqui. - abri meus braços e ele se aconchegou. Peguei ele no colo, com cuidado. Acariciando seus cabelos.
Ela conseguiu o que queria. Abandonar o filho, era por isso que me procurou depois de dois anos. Não estava conseguindo lidar com a responsabilidade de ser mãe. Não tinha outra resposta. Eu estava fodido.

- Olha aqui.. Eu sou o seu papai, ok? Mamãe precisou resolver uns negócios bem longe. E agora você vai morar comigo e eu vou cuidar de você. Prometo ser bem legal! - falei com toda calma. Pedindo forças a Deus para as coisas que eu passaria a enfrentar agora.
- Papai? - ele finalmente sorriu, colocando as mãozinhas na boca.
- Sim, vou ser uma mamãe.. Mas um pouquinho diferente. - brinquei o colocando no banco de trás. 

Eu tinha que ir pra casa. E agora, enfrentar minha mulher.

Flashback off